O tempo pára, sim
Por volta das três da manhã, Alessandro retornava de mais uma longa jornada de trabalho. Após a morte de seu pai, ele teve de tomar as rédeas de casa, e o tempo para se dedicar aos estudos foi se tornando cada vez mais escasso. Suas duas horas e meia de sono se faziam muito piores do que se ele passasse a noite acordado. Sua indesejável rotina consistia em levar sua irmã mais nova à escola logo cedo, chegar quinze minutos atrasado ao trabalho, trocar faíscas com o seu chefe e, pelo fim da manhã, deixar parte do trabalho para ser concluído no próximo turno. O problema é que assim ele não cumpria as metas como deveria, levando a uma redução significante em seu já baixo salário. Seus almoços duravam aproximadamente sete minutos, uma vez que ele precisava buscar sua irmã na escola e mal sobrava tempo para outras atividades. Por conta disto, diariamente era obrigado a ouvir lamúrias dela, já que ela era obrigada a esperar por quarenta e cinco minutos pelo seu irmão. Depois de quatro ônibus tomados ele retornava ao seu ofício, em um escritório de contabilidade, onde o stress pairava sobre o ambiente, criando na mente de Alessandro uma tensão que só aumentava a cada dia e a cada calhamaço a mais em sua mesa. Lá pelas quatro, ele já sabia o que iria acontecer: seu chefe, um homem calvo, forte, de estatura mediana e de expressão não-amigável entraria em seu cubículo e, em um surto descontrolado, bradaria contra Alessandro, atirando-lhe os piores impropérios possíveis e mandando-o refazer todos os seus relatorios. Sete e quarenta e cinco ele concluía tudo.
Sua aula começava às sete.
Já cansado fisica e emocionalmente, Alessandro seguia o seu caminho até a faculdade, levando com esforço sua pasta lotada de anotações (e Alessandro era um rapaz franzino, para piorar ainda mais a situação).
Oito e meia era hora de sair. Sua irmã precisava dormir e isto só acontecia com ele por perto. No fim das contas, restavam trinta minutos de aula, que ele usava para tentar retomar as anotações perdidas e sanar dúvidas das aulas anteriores. Por morar em um bairro afastado, poucas eram as linhas de ônibus praquela região naquela hora. Era necessária uma caminhada de vinte e cinco minutos até o ponto mais próximo, que se localizava em uma ruela de iluminação precária e casas com muros baixos e paredes maltratadas. Alessandro se via sempre apreensivo, com receio de ser abordado a qualquer hora pelos marginais das redondezas. Malditos moleques aqueles.
Sentado no ponto de ônibus e absorto em suas leituras acadêmicas, recebe uma mensagem no celular do escritório: "preciso de você aqui", dizia o seu chefe. Como era costumeiro, deu meia-volta e partiu para mais vinte minutos de caminhada, desta vez para outro ponto de ônibus. Não fora assaltado, mas considerava-se em perigo ainda. Hoje em dia não se pode mais vagar por aí como antes.
Tarde da noite e Alessandro se via novamente aonde o seu dia começou, embora agora a rua inteira se encontrasse de luzes apagadas, exceto pelo pequeno escritório que Alessandro começava a repudiar. "Por culpa sua perdi dez mil hoje", exagerava o chefe, com sua camisa de botões suada e gravata afrouxada. Alessandro sabia que a culpa não era dele, e sabia também dos problemas de seu chefe, que além de fracassado era corno, mas ao invés de arguir com ele, fingiu se lamentar e recomeçou o seu trabalho do zero. O tempo passou lentamente, talvez até mais lentamente do que o resto do dia, e o clima pesado instaurado na saleta perdurou até as cinco e meia, quando Alessandro, contra a vontade de seu patrão, deixou o escritório para buscar sua irmã. Tomou um rápido e modesto café da manhã e partiu com ela do decadente casebre para deixá-la na escola. Durante o caminho, no ônibus, refletiu sobre o quão sozinha ela era, afinal Alessandro era a única pessoa em sua vida. Dentre todos os parentes, era o único capaz de criar uma criança. A mãe tinha se tornado uma viciada e a irmã, prostituta. Todas os deixaram.
Logo, ele estaria novamente no escritório de contabilidade. O dia se arrastou exatamente como os anteriores, porém suas costas pareciam carregar duas toneladas a mais. Decidiu não ir para a aula. Nem para casa. No dia seguinte, não foi ao trabalho. Ou a qualquer outro lugar.
10 comentários:
muito, mass muito bom mesmo ;D
nem parece que tu escreveu cara, mto bom ;D, mais plx
Velho, dá pra sentir o desespero O_O
e nem precisa de tudo isso, vai dizer?
aposto que ele deu uma paradinha no bar, fala serio vai...
auahuahauhau
foda, angustiante
Cara...foda ao extremo.
Por sinal...
Como é que tu pôs a barra de pesquisa no blog?
não consigo botar lá.
BOA !!!
ÔTIMA CRÔNICA! Prepare-se para um dia lançar um lçivro de crônicas !
PS. Após ler uma inúmera quantidade de palavras e frases mil, vou reservar o resto do tempo para clicar nos links do google ! FALOW
AH !
A FOTO DA BRAHMA É TENTADORA ! Estou com sede ha ha ha !
então o kra resolveu todos os problemas dele?
tomara que sim
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