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terça-feira, 6 de março de 2007

Cinquenta Minutos

Era o tempo que faltava para término da última parte da vida de Márcia.
Sua situação no momento não era das mais favoráveis, porém sua vida como um todo havia sido positivamente satisfatória. Nada lhe faltou em momento algum, todas as suas vontades e desejos se concretizaram. Menos um.
Márcia ainda desconhecia o seu fim, porém o pressentia. Isto a incomodava, e consequentemente incomodava a todos que a circundavam, principalmente no ambiente de trabalho. Apesar de sua situação privilegiada e carisma infindável, suas duas últimas semanas foram um martírio. Com um comportamento fora da normalidade, Márcia passou a destratar seus funcionários, sempre por motivos pífios. O ápice de sua neura se deu hoje, cinquenta minutos antes de sua morte.
Ao retornar de uma reunião decisiva para o futuro da companhia, ela juntou toda a equipe de planejamento para rever as pautas da semana, e em um surto nunca antes presenciado, demitiu cabeça por cabeça aos brados e sem uma justa causa. Sua gritaria descontrolada lhe deu um ar enfurecido e quase psicótico, com seus cabelos desgrenhados e veias visivelmente protuberantes. Sua assistente tentou acalmá-la inutilmente, e nada conseguiu além de cicatrizes no rosto (Márcia avançou com suas unhas cuidadosamente pintadas). Foi o estopim para desencadear um clima de barbárie no setor. A assistente, com o rosto marcado e sangrando, despejou no peito de Márcia o café que acabara de ficar pronto, causando queimaduras em Márcia e urros de dor que podiam ser ouvidos pelo andar inteiro. Os seguranças logo chegaram para tentar amenizar a situação - digna de novela das seis -, porém a ira de Márcia transcendia a força física dos pobres destreinados.
Quarenta minutos.
Já no elevador, que assim como a sua carreira, descia mais e mais, Márcia tomou uma atitude que viria a selar de vez a loucura: despiu-se quase que completamente. Deixou em seu corpo apenas o seu cinto e as queimaduras provenientes do café. Sem maiores explicações, expôs a todos sua pele maltratada e cansada, seus seios já sem aquele brilho de outrora e também toda a sua intimidade. Olhares perplexos a seguiam, e Márcia já não estava mais em si. Qualquer tentativa de voltar atrás era nula, e não havia outra solução senão se exilar de tudo e todos. Toda a filantropia praticada, todas as doações, todos os trabalhos sociais, nada disso seria lembrado a partir de agora. Márcia poderia morrer como um exemplo, mas escolheu morrer como insana. A selvajaria cometida nestes poucos minutos viria a arruinar pra sempre a sua imagem. E então deixou o prédio.
Entrou em um táxi, com a sorte de não ter sido vista pelas autoridades e nem ter sido reparada pelo motorista e partiu para casa. Durante o longo tempo percorrido entre o edifício e o seu lar, permaneceu em absoluto silêncio, e ao final, deixou o táxi sem dar um níquel para o senhor dentro do carro. A princípio ele teria reclamado, porém ficou inanimado ao presenciar aquela mulher vagar pelo jardim de sua casa nua.
Achou melhor ir embora.
Cinco minutos.
Márcia entrou em casa, e com a indiferença de um pobre desolado passou reto e subiu para o seu quarto. Suas crianças, ao ver a cena, não a entenderam, e voltaram à televisão. Deitou em sua cama, fechou seus olhos e dormiu para nunca mais acordar.
E nunca realizar o seu sonho.

4 comentários:

Anônimo disse...

ELA TAVA PELADA CARA!!!


xD


tipo,tou encafifado, questões filosoficas, mas nem digo nada pq o texto tava bom ;D

Rodrigo disse...

achei o final mto parecido com o do texto anterior, digo isso sob um olhar estrutural do texto. O_õ

e,tipo,assim,meu,kra,
a minha divisão por versos é para aumentar as possibilidades de interpretações do poema

e tbm porque, na historia da poesia, a utilizacao de versos é uma tradição... mas sabe
eu não acredito no uso de versos para dar ritmos, em poesia ^^

abraço!!!!!!!!!! o/

Rodrigo disse...

é :) eu vivo me policiando para tentar fazer diferente, mas tem umas jogadinhas, que não dá para resistir huhuhu texto é foda: SEMPRE tem um erro a mais hahaha eu vivo encontrando ;D então vamos continuar escrevendo!

Youta disse...

Apesar do final parecido, foda-se, tá foda pra caralho XD

Por enquanto tu começou os textos, pode usar isso até esgotar as possibilidades HAHAHAHA
Tem um quê de Veríssimo no texto. Acho que não é Veríssimo, mas me lembrou alguém e o único que me veio à mente é ele.