Google

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Ópio artístico.

Dentre todos os deméritos de Aristides, a falta de sensibilidade artística era um deles. Quando presente frente a uma obra surrealista, fincava-se em seu mundo correto e imutável e denegria todas as composições criativas do autor. "Não faz sentido este lombo" ou "quem neste mundo teria tamanhas âncas?", bradava. Ceticismo autoral. Sua repugnância atingia níveis exagerados, afinal ele se considerava o maior dos artistas - apesar de não o ser -, cujo talento infindável superava os medíocres contemporâneos que o circundavam.

Todos ao seu redor alcançavam sucesso considerável, fossem compositores, romancistas, escultores ou dramaturgos. Menos ele. Remoía-se diante de seu próprio fracasso, almejando um lugar no panteão cultural de seu tempo, mas nada conseguia a não ser críticas angustiantes e repletas de escárnio. Diante de seu ostracismo notável, sucumbiu aos seus devaneios introspectivos e resignou-se às suas lamúrias profanas, concebidas através de infindáveis lamentações egocêntricas, não enxergando as críticas e limitando-se aos aspectos negativos, fazendo desfalecer o seu próprio estímulo.

Tão nobres foram seus pensamentos que, em determinada tarde, após reflexões inconclusivas, decretou o seu fim, outorgando o seu lirismo criativo. Nefasto artista este, que se deixou possuir pela vaidade e pela decepção, que tanto assola estes do mesmo ofício. No entanto, os de mente sadia sobrevivem e potencializam suas nuances, ao contrário de Aristides, fraco e submisso a si mesmo.

Como todo artista depressivo, afundou-se em seus clichês, podando seu potencial com uma lâmina a percorrer o liso caminho da pele de sua garganta. Feneceu na mediocridade.

Um comentário:

Anônimo disse...

INSERT