Podridão perfumada.
Adentrou o recinto cambaleando, ébrio e inconseqüente, fazendo da balbúrdia o seu estandarte. Os transeuntes, estupefatos com tamanhas atrocidades, sucumbiram ao terror do promíscuo e permaneceram incrédulos diante da cena que presenciavam. O bêbado, tropegando tanto em palavras quanto em objetos, defecava nos finos pratos recém preparados pelo chef chileno daquele restaurante. Suas calças arriadas e sujas contrastavam com o corte simétrico, elaborado e requintado.
Aparentava ser um homem respeitável, não fossem suas atitudes naquele momento. O traje imponente e delineado em seu corpo firme parecia um contraponto irônico em relação ao seu estado lastimável. Com suas vestes manchadas por dejetos de odores fétidos, parecia ter saído de um depósito putrefato de alimentos. Envolto em suas próprias fezes, avançava em direção aos que vislumbravam paralizados àquela cena grotesca.
“Regozijai em sua mediocridade!”, bradou. Atônito, o proprietário do fino restaurante tentou intervir, no entanto fora alvejado impiedosamente por um punhado de excremento. Não suportando o acontecido, expeliu com violência dejetos de comida, vomitando um de seus pomposos pratos.
De um lado, um humilhado administrador; de outro, o arauto do escárnio sanitário, ensandecido em seus devaneios nada higiênicos. O restaurante outrora soberbo então fenecia na podridão, tanto física quanto moralmente. Era a sobriedade contra a ebriedade, prestes a entrarem em um embate dispensável e racionalmente incompreensível.
O proprietário, impotente em conter a algazarra do incontido beberrão, avançou à mesa mais próxima e se apoderou de uma faca com as serras gastas, porém ainda pontiaguda. Adiantou-se em direção ao baderneiro para desferir um único e mortal golpe, porém cambaleou ao pisar em seu próprio vômito. Fracassou ao tentar recobrar o equilíbrio, desfalecendo perante a platéia atordoada, que nada pôde fazer ao presenciar a ponta da faca rasgar e atravessar o rosto do indivíduo, enquanto este ia de encontro ao chão.
Enquanto a multidão se reunia em volta do corpo moribundo, o sujeito embriagado recolhia suas calças e se apressava em deixar o local. Quanto ao dono do restaurante, esmoreceu na eternidade, cuja existência findou-se em meio a sangue, vômito e fezes.